Depois da tempestade, o sol sempre aparece.
Dizem que depois da tempestade, o sol sempre aparece. O sol realmente aparece em algum momento e ajuda a iluminar toda a bagunça e sujeira que precisa ser limpa. A água se seca e a aparente bagunça pode ser arrumada. Mas também, tem situações que mesmo que a gente arrume tudo, é impossível ficar como era antes do vento, da água, da escuridão e dos raios. E tem umidades e estruturas abaladas que não se vê tão facilmente.
A pandemia passou na vida do mundo inteiro como uma grande tempestade. Não sabíamos quando acabaria, devastou a vida financeira de muitas famílias, empresas, comércios, igrejas, locais públicos e privados. Se fossem só coisas materiais, não teríamos tantas dificuldades em recomeçar. O Sol apareceu e acontece que mostrou como foram mexidas as histórias de vida, os sonhos, as esperanças e também em muita gente o caos que foi instalado e nem sempre visto a olho nu.
Por outro lado, no meio da bagunça que a tempestade deixa, o sol pode mostrar coisas que estavam escondidas e vem à tona na mexida forte do solo. Aconteceu também no nosso isolamento. Repensamos nossa maneira de viver e também repensamos sobre o que de fato é essencial. Achamos tesouros valiosos dentro de casa e dentro do nosso ser.
E aos poucos, voltamos para o que era anterior. Mas não é tão simples assim! Temos visto que várias pessoas estão tendo crises de ansiedade, depressão e outros sintomas. Então, precisamos parar e analisar as questões envolvidas nessa volta.
Quais fatores importantes que fizeram parte da pandemia e carregamos conosco?
Medo, incertezas, solidão, teste positivo, internação, entubação, morte por perto (por vezes de frente com ela), preocupação em passar o vírus para alguém, medo do contato, morte de queridos e sem poder se despedir, divórcios, violência doméstica, uso e abuso de álcool e drogas, mais tempo com a família, reaproximação, valorização do tempo, questionamento do que realmente preciso para viver; mudanças de rotas, desafios na cozinha.
A estrutura foi mexida, o solo não é mais o mesmo. Toda essa experiência marcou o território da nossa existência. É tempo de olharmos para o que passou, encararmos os nossos sintomas e refletirmos sobre nossas angústias e o que elas falam sobre nós.
Não podemos individualizar os sintomas, mas encará-los olhando para a sociedade e compartilhando sobre as angústias e desafios. Para isso, é importante não mais se isolar, mas se aproximar do outro, não fugir dos sentimentos, mas olhar para eles. Grupos geram identificação e são muito importantes nos recomeços.
A comunidade cristã também tem esse papel e é necessário colocar em prática o que o salmista diz: “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união…porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.”(Salmo 133.1 e 3).
Coloquemos em prática essa comunhão!
Simone Garcia
Simone Garcia Aquino da Cruz é membro da IPJI, formada em Psicologia pela Universidade Paulista e atua como 1a secretária na SAF.